quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O PÁRIA

  Parte 3 da reportagem de Renan Antunes de Oliveira para o BRIO. 


   Papeis.
   Em janeiro de 1994, cinco anos depois de instaurado, finalmente o inquérito do fim da década de 80 que mencionava José Germano Neto e que acabou servindo de base para sua prisão temporária é enviado para a Justiça, concluindo pelo indiciamento de 11 suspeitos.
   Agora sim, Germano está entre eles. É apontado como membro da quadrilha de Celsinho da Vila Vintém.
   A anotação sobre ele no relatório é sucinta: “Durante buscas realizadas em sua residência, foram encontrados documentos que indicam o envolvimento na quadrilha, vide fls. 256”.
   O problema, parte 1: os policiais que vasculharam os dois endereços de Germano em 1989 nada encontraram de comprometedor. O problema, parte 2: na folha 256 do inquérito, como mostrado no capítulo anterior, não há qualquer menção a Germano — nem em nenhuma outra página, a não ser na “informação” passada pelo colaborador Cabo Lopes. 
   O problema, parte 3: quando Germano foi prestar depoimento, a polícia lhe devolveu todos os papeis apreendidos (leia-se carteirinha de sócio do Campo Grande e fotos), sacramentando a ausência de provas.
Relatório no qual a PF indicia Germano, apontando para página que não diz nada sobre ele.
   Em 2 de agosto de 1996, o então chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, o jovem delegado Luiz Cravo Dórea, escreve ao juiz do caso que não vê como dar seguimento ao inquérito devido ao longo tempo decorrido desde o início das apurações (sete anos) e ao fato de que “as indiciações decorreram da convicção do então chefe deste DRE, Vanderley Martins de Brito”. Duas semanas depois, em 15 de agosto de 1996, a promotora Cristina Medeiros da Fonseca pede o arquivamento do inquérito, afirmando que a elucidação deste crime “certamente dependeria da ajuda da sorte” e que seu sucesso contaria “exclusivamente com o acaso”.
   Mas Germano, apesar de nunca condenado, sequer processado, seguiria listado como suspeito de tráfico de drogas nos sistemas ainda jurássicos da polícia brasileira — e agora com passagem pela prisão. E seu nome sujo não ficaria restrito somente ao Brasil. Outro país passaria a considerar Germano traficante.

Leia a reportagem completa. Beba na fonte.

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