domingo, 1 de novembro de 2015

Livro impresso e digital (e outras reflexões)

   Por Emanuel Medeiros Vieira  
   Há cinco anos – lembra Alexandra Alter, do “New York Times” –, o mundo dos livros foi tomado por um pânico coletivo quanto ao futuro incerto da impressão.
   Leitores migravam para os novos equipamentos digitais e as vendas dos livros eletrônicos disparavam, até 1.620 por centro entre 2008 e 2010, “alarmando os livreiros que viam os consumidores usarem suas lojas para  encontrar títulos que comprariam on-line”.
   “Os ex-books eram um foguete em disparada”, disse Len Vlahos, ex-diretor executivo do Grupo de Estudos da Indústria de Livros.
   Resumindo: o apocalipse digital não aconteceu.
   Em 2015, as vendas digitais desaceleraram acentuadamente.
   Segundo Alexandra Alter, há sinais de que alguns adeptos dos livros eletrônicos estão voltando para os impressos.
   As vendas de e-books caíram 10 por cento nos primeiros cinco meses deste ano, segundo a Associação de Editores Americanos, que coleta dados de quase 1.200 editoras.
  “A queda da popularidade dos e-books pode indicar que o setor editorial, embora não seja imune à revolução tecnológica, suportará o maremoto digital melhor que outras formas de mídia, como a música e a televisão”.
   Eu sei, eu sou absolutamente suspeito. SÓ LEIO LIVROS IMPRESSOS.
   Não consigo imaginar alguém lendo “Guerra e Paz”, de Tolstoi (e muitos outros livros), via e-book.
   Nostalgia? Pode ser.
   Pode ser mais, como a lembrança dos sebos, de tocar nos livros, de folhear, de  anotar (como sempre faço – só leio com duas canetas) Sim, o cheiro, a lombada. Alguns dirão que é um lugar-comum, que é mania ou falta de adaptação aos tempos novos – pode ser.
   Mas lembro-me que as pessoas falavam da morte do livro físico. O velório já estaria avançado.
   Alguns executivos de editoras– lembra a jornalista –AFIRMAM QUE O MUNDO MUDA DEPRESSA DEMAIS PARA SE AFIRMAR QUE A ONDA DIGITAL ESTÁ PERDENDO FORÇA.
   Uma nova geração poderá achar que o livro impresso morreu. Pode ser. Quem sabe.
   João Ubaldo Ribeiro dizia que o bom do futuro é que ele não estaria mais aqui (ele, João Ubaldo)...
   Como disse alguém, é tão importante a literatura na sociedade que quanto “mais frágil ela for”, o povo estará em vias de perder o rumo de sua identidade e de seu país.
   “A literatura é a expressão mais completa do homem, como ente que pensa e sente”, afirmou Cyro de Mattos.
   Como salientou Jaime Pinsky, “com os papiros e pergaminhos, inicialmente, e mais tarde com o papel, (...), a cultura, no sentido de patrimônio acumulado, passou a alcançar um número  cada vez maior de pessoas, democratizando o saber e dando oportunidades a uma parcela importante da população. Sem a palavra escrita, em geral, e sem o livro, em particular, a história não teria sido a mesma”.
   Como observa o historiador citado, “jogamos no lixo milhares de anos de avanço civilizatório e nos transformamos em meros consumidores de softwares”.
   Seria preciso uma novo Renascimento: da esperança, de utopia, através da resistência da cultura contra a barbárie.
(Salvador, outubro de 2015)

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