domingo, 26 de maio de 2013

Derrotados pelo Vírus

Gaúcho de Passo Fundo
Dos onze jogadores, sobraram três


   Jones Lopes da Silva
   Jornal Zero Hora - Porto Alegre


    Resta ao ex-lateral Luiz Carlos a foto envelhecida, de 1973, como lembrança dos companheiros do Gaúcho, de Passo Fundo, uma força do futebol do Interior nos anos 70. Dos 11 titulares, sobram três vivos: ele e os irmãos Luiz Freire e Zé Augusto. Com exceção do zagueirão Daizon Pontes, vítima de AVC, os outros sete morreram em consequência da hepatite C. O drama é um espelho dos pequenos e médios clubes que compartilhavam seringas para estimulantes injetáveis nos anos 1960, 1970 e 1980.
   
   Muita gente não se salvou. A razão desse drama criado nos vestiários dos clubes pequenos e médios dos anos 1970 são os estimulantes e energéticos aplicados na veia com a antiga seringa de vidro, compartilhada sem a esterilização adequada. Alguém que já estivesse infectado contagiava os colegas. Comum à época, a prática disseminou o vírus da hepatite C e as consequências mais funestas. 
   Faltam dados sobre óbitos relacionados à hepatite C no futebol. E sobre o número de ex-atletas vivendo com o vírus. Se há no país entre 2 e 3 milhões de pessoas infectadas (apenas 150 mil diagnosticadas), estima-se, entre elas, dezenas de milhares de ex-profissionais e amadores contaminados. 
- Só não tratei de juiz até hoje - alerta o gastroenterologista e hepatologista Hugo Cheinker. 
   O especialista já atendeu em sua clínica em Porto Alegre o equivalente a três a quatro times de futebol, incluindo gente com passagem pela Seleção. 
- Praticamente, quem faz o teste descobre ser portador da hepatite C - conta Cheinker. 
   A rigor, quem jogou futebol profissional no largo período entre 1960 e 1980 integra o grupo de risco. Deve realizar o teste específico para hepatite C, o anti-HCV - não é o mesmo exame de sangue de colesterol e glicose no check-up rotineiro. O teste custa cerca de R$ 20 em laboratórios. 
   Há uma resistência dos ex-jogadores em procurar ajuda. Preferem evitar a realidade em caso de positivo, embora quanto mais cedo o tratamento se inicia, mais segura é a recuperação. 
   Contraída a hepatite aguda, o vírus começa a machucar o fígado e progride sem sintomas durante 20, 30, 40 anos, até provocar cirrose e câncer. Daí porque os contaminados dos anos 1970 ainda lidam com a enfermidade na segunda década dos anos 2000. São pessoas hoje em torno dos 60 anos. 
   Um exemplo é Jurandir, ex-Grêmio, que anulou Paulo Roberto Falcão em um Gre-Nal em 1979. Ele foi fazer uma doação de sangue e, dias depois, recebeu uma carta informando sobre sua hepatite C. Ficou apavorado: 
- Àquela época, em 2006, achei que ia morrer. Diziam que esse vírus era como o da aids.
 
   Casado há 40 anos, Jurandir buscou tratamento. Um ano depois, havia zerado o vírus.   Como o antigo jogador do Grêmio, entre 5 e 7 mil pessoas no país deverão ser diagnosticadas em 2013. É muito pouco. Se fosse anos atrás, sete testes a mais teriam salvado a vida do time do Gaúcho. 

Leia aqui matérias da série sobre a pandemia da hepatite C, feita pelo jornal ZERO HORA. 

Um comentário:

  1. Caro Canga, em SC a realidade não é diferente, basta você pesquisar sobre o time do Próspera de Criciuma, que também possui jogadores desta época com diagnóstico de hepatite C.

    GILBERTO.

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