domingo, 26 de junho de 2011

SÁBATO, QUASE UM SÉCULO

Por Janer Cristaldo

    Tivesse segurado mais algumas semanas, Ernesto Sábato teria fechado ontem um século redondo. Nasceu em 24 de junho de 1911, solstício de inverno, e muito escreveu sobre o significado pagão da data. Escolheu uma péssima data para morrer. Ficou espremido entre o casamento do principito inglês e a beatificação do João Polaco. No dia seguinte, as páginas foram do bin Laden. Fosse numa semana mais tranqüila, sua morte teria mais espaço. Acontece. Aldous Huxley teve o azar de morrer no mesmo dia em que John Kennedy foi assassinado.

   Há quem situe Jorge Luis Borges como o escritor maior da Argentina. Cá entre nós, eu citaria Hernández. Creio que o grande legado argentino à literatura universal é o Martín Fierro. De qualquer forma, antes de Borges eu situaria Sábato. Borges de certa forma desdenha a Argentina e refugia-se no mito e na metafísica. Os contos de El Aleph – a meu ver seu livro mais importante – situam-se em um topos uranos irreal. Já Sábato, tanto em Sobre Heroes y Tumbas como em Abbadón, el Exterminador, mergulha na história argentina. A Borges, a história dos homens pouco lhe diz.

    Em Abbadón, Sábato cometeu um pecado mortal, que seus leitores mais exigentes não perdoam, o endeusamento do Che Guevara. Não sei o que o levou a isso. Falta de informação não há de ter sido. Até eu caí nesse conto. Não que tivesse maiores simpatias pelo Che. Em minha tese, considerei, talvez deslumbrado com Sábato, que um escritor tinha todo direito em transformar em personagem de ficção um personagem histórico. Mais tarde cheguei à conclusão que não tem. Não se pode pintar com cores lindas um celerado. Pior ainda, a soldo de Moscou, da utopia mais assassina do século passado. Leia mais. Beba na fonte.

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