domingo, 5 de dezembro de 2010

A CELEBRAÇÃO DE SANTA BÁRBARA NA BAHIA: MISSA FESTIVA, PROCISSÃO E CARURU


Por Emanuel Medeiros Vieira
Mais de 12 mil pessoas no Largo do Pelourinho. Sábado, 4 de dezembro, bem cedinho. Milhares de pessoas celebram Santa Bárbara, a maioria vestida de vermelho. É uma belíssimo momento do sincretismo religioso na Bahia.
Bárbara é santa católica.
E Iansã, do candomblé ketu, ou Bamburucema do angola. Mas todos a conhecem como Bárbara ou Yansã, padroeira dos bombeiros. Emociona a intensa participação popular, a devoção dos fiéis, a força interior daquelas pessoas, muitas descendentes de escravos.
A missa festiva celebrada no Pelourinho é bela e tocante.
É completa a integração entre a liturgia católica da missa e os cânticos das religiões afro-brasileiras, tão fortes na Bahia, apesar do fundamentalismo de algumas seitas evangélicas, que procuram destruir – até com violência – tais tradições.
Arrepia escutar aqueles cânticos das religiões afro-brasileiras escoando no Pelourinho, junto com a devoção e a liturgia católica, que marcaram tanto a minha vida – de um menino a um sexagenário.
(É como se a energia de uma força maior atravessasse aquelas pedras de tantos séculos, enquanto o povo todo cantava, contra a violência, o individualismo, a carência de compaixão, e a sensação de que a vida vale cada vez menos.)
Vou mais longe: assistindo à missa, com aquele povo todo reunido no Pelourinho, tive a sensação da recuperação do Sagrado num mundo cada vez mais dessacralização e materialista.)

O candomblé faz a associação entre Santa Bárbara e Iansã. A homenageada tem o domínio do fogo.
“É a mulher indomável, guerreira e que briga pelo que quer, por quem protege”, ensinam os especialistas em catolicismo popular e os adeptos do candomblé.
 Bárbara teria nascido onde hoje conhecemos por Turquia, no século III. Sua lenda conta que, por se converter ao cristianismo, provocou a ira do pai, Dióscoro, foi julgada pelos romanos e condenada à morte.
Depois de ter a cabeça decapitada, o céu se fechou em nuvens e raios atingiram seu pai. Já Iansã – que quer dizer “mãe nove vezes” – é apresentada como uma divindade que comanda os ventos e, depois de engolir um preparado mágico que o marido, Xangó, tinha encomendado – acará – também teve poderes sobre os raios e os fogos.
Os ilhéus da minha geração e os mais antigos devem lembrar que quando ocorriam trovoadas nossas mãe apelavam à Santa Bárbara (e são Gerônimo), tapando espelhos e tesouras.
 
Bárbara e Iansã enobrecem o perfil feminino, e nos remetem ao arquétipo da guerreira. O tríduo em louvor à santa católica, na Igreja da Ordem Terceira do Carmo, teve como tema “A devoção à Santa Bárbara, filha de Nossa Senhora do Rosário, nesses 325 anos de fé e resistência.”
Depois da missa, ocorre a procissão e é servido um caruru feito com 8 mil quiabos. Pelo mercado que leva o nome da santa, localizado na Baixa dos sapateiros e aberto desde às 6 horas, passaram 12 mil pessoas até o final do dia.


Viva Santa Bárbara! Viva Iansã!
Salvador, dezembro de 2010

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