terça-feira, 28 de abril de 2009

A QUEM INTERESSA O EMBARGO A CUBA?

Aos EUA interessa, embora não se saiba direito para que, hoje em dia. Mas interessará a Cuba também? A coluna de Cesar Maia na Folha de SP (25/04) analisa esse quadro em base ao que viu em Havana e os comentários de um dissidente-escritor num documentário alemão, filmado em Cuba. Trechos do artigo.

1. "Em dezembro de 2004, pelas cidades presentes (485 anos de Havana), afirmei que, visto de uma perspectiva liberal, o embargo econômico dos EUA a Cuba era uma gigantesca irracionalidade, inclusive política. Visitei Havana com toda a liberdade, conhecendo os progressos da revitalização do centro histórico e as ruínas e cortiços de toda a área que está fora desse núcleo. Conversei com seus dirigentes.

2. Meses depois, assisti a um documentário alemão, ‘Memórias das Ruínas’, sobre as pessoas que viviam naqueles destroços de casas, de antigos restaurantes e de teatros. O documentário entrevistava seus moradores. Queria saber das razões, se havia memória sobre o que era antes aquele imóvel, e associar o equilíbrio emocional de seus moradores.

3. Registrei quatro depoimentos. O de um fazendeiro, expropriado pela revolução. O de uma mulher que fez essa opção por conflito e exclusão familiar. O terceiro, de um homem que morava em um antigo teatro e vivia um desequilíbrio mental leve e lúdico. Finalmente, o depoimento que mais chamou atenção foi o de um professor e escritor dissidente, que cumpriu pena na prisão. Solto, não poderia sair de Havana. Escolheu para morar uma mini-cobertura de um cortiço.

4. Seu depoimento teve caráter político. Disse que havia, por parte de Castro e seu grupo, o interesse em manter o binômio embargo/ruínas. Que as ruínas/cortiços eram usados como conseqüências do embargo e ofereciam mais que discurso: imagens fortes do cerco a Cuba. Ele assegurou que o embargo era a outra face da moeda, pois permitia ao governo: 1) demonizar seu inimigo, EUA; 2) colocar-se em posição de vítima e, com isso, manter o povo solidário e mobilizado, usando o nacionalismo como arma.

5. Por fim, afirmou que o embargo era do maior interesse de Castro e que ele encontraria qualquer desculpa para preservá-lo. Manter o embargo, portanto, era ingenuidade dos EUA, pois estava fazendo o jogo de Cuba. Bem, agora, com a posição pública de Obama, será possível testar a avaliação do professor dissidente e saber se realmente interessa a Cuba manter o embargo para agregação interna e, sendo assim, quais serão os próximos pretextos".



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