terça-feira, 21 de março de 2017

Os Podres Poderes na Republiqueta dos Canalhas “Carne Fraca”

por Eduardo Guerini
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais
Queria querer gritar setecentas mil vezes
Como são lindos, como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais
Será que nunca faremos se não confirmar
A incompetência da América Católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos?
Será será que será que será que será
Será que essa minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir
Por mais zil anos?


(Caetano Veloso, Podres Poderes)
  
   Na sucessão dos governos pós transição democrática, os brasileiros são sacudidos por inúmeros escândalos de corrupção. Os desvios e a cultura da transgressão é narrativa comum no ideário da política nacional, independentemente de partidos políticos e ideologias, a prática transgressiva na “res pública” acontece sob o sol ou sob a lua. Em cada viela desta republiqueta, as emboscadas produzidas pela elite empresarial desmascaram a lógica do discurso da eficiência, na elite governamental, a ineficácia das ações diante de um Estado opaco faz da transparência, uma utopia inalcançável.

   No aniversário da Operação Lava Jato que revelou as entranhas e disputas intestinas no controle do aparato estatal na atualidade, a hegemonia que se pretendia construir, via partidos políticos e seus asseclas configura um crime de “lesa pátria” cotidiano. No processo de transição, a era dos militares e a cultura ditatorial que tudo podia sem expor os escândalos parecem “contos da carochinha” diante do cenário devastador produzido pelas sucessivas alianças conciliatórias de Sarney a Temer. Eis que pulula uma agremiação formada por “coronéis regionais”, o PMDB. A saudade do velho MDB histórico, que lutava abertamente com lastro ideológico contra os arenistas na ditadura militar, é de um saudosismo piegas!!!

   Neste entremeio, a Nova República trouxe um lastro de acordos, conchavos e conciliações de classes pelo alto, esquecendo rotineiramente os verdadeiros demandantes das necessidades de uma republiqueta degenerada que se corrompia década após década. O Estado brasileiro foi encapsulado pelos interesses privatistas e liberalizantes. Porém, não sejamos tolos, a ascensão de Collor de Mello, a sucessão de Itamar Franco, e, finalmente, o ápice dos acordos “no limite da responsabilidade” de FHC e seus ministros envolvidos na entrega das principais estatais brasileiras. A social democracia brasileira é um arroubo diante da velha tradição do Estado de Bem Estar Social europeu.

   Neste contexto, o broto do “presidencialismo de coalizão” foi a lavra para o novo adágio da velha cultura paroquial do coronelismo arcaico e o caciquismo político, a saga do “É dando que se recebe”, selou uma nova roupagem para velha prática política em busca de apoios para se manter uma estabilidade política em torno de intere$$e$ econômicos da elite empresarial associada aos ditames do sistema financeiro internacional, no auge da globalização. A propaganda da inclusão pelo mercado vislumbrada na falsa melhoria dos serviços públicos irrigados pelo financiamento público, produziu uma dívida pública que colapsou o Estado brasileiro no final da década de 1990.

   No início do século XXI, com a desgraça da social democracia brasileira, o petismo angariou o apoio da classe média, chegando ao poder, com a insígnia da “esperança vencendo o medo”. Porém, o lulopetismo se converteu rapidamente ao governismo infantil, conciliando os interesses da elite empresarial e sistema financeiro nacional e internacional, aparelhando o Estado brasileiro, distribuindo algumas “migalhas”, com políticas sociais residuais /focalizadas. Enquanto a patuleia se divertia com algumas Bolsas pontuais, os caciques do petismo organizavam a divisão dos favores e acertos com os membros do andar superior na republiqueta.

   Na intrincada e complexa miríade que sequestrou recursos públicos para o enriquecimento privado de dirigentes partidários, com os devidos favores estatais para grupos empresariais, o petismo sucumbiu na cultura de transgressões cotidianas, tal como vaticinou Heloisa Helena (PSOL), os petistas se locupletaram na “mesa farta do poder”, sem pruridos e ressentimentos, os críticos se transformaram em inimigos, os inimigos foram chamados para o “presidencialismo de cooptação”. Neste cenário aterrorizante de capitulação do petismo, os movimentos sociais foram garroteados pela força do “centralismo democrático” que imperou na década do lulo-petismo. Porém, os caciques não conseguiram manter o equilíbrio na frágil aliança com o PMDB, foram golpeados pelo destino dos traidores, massacrados pelos desvios, e, como a letra escarlate, a insígnia da “corrupção”, o crepúsculo politico-ideológico soterrou o Governo Dilma Rousseff diante do abismo econômico.

   A ascensão do PMDB, consorciado com várias agremiações, tendo como consorte majoritário o PSDB, o discurso de um novo tempo, de transparência com agenda para modernização da estrutura estatal e societal não poderia frutificar diante de lideranças facciosas que controlam o Governo Temer. Afinal, a “res privatae” operava sem freios, independente das sucessivas fases da Operação Lava Jato, com uma canalha política agindo nos bastidores, conchavando com os podres poderes republicanos. A teoria da separação dos poderes propalada por Montesquieu trata do equilíbrio das forças, não da igualdade na distribuição do butim.

   No espocar da Operação Carne Fraca, os brasileiros são assombrados pela vileza dos funcionários do Estado brasileiro que em troca de polpudas doações “não contabilizadas”, por empresas do setor agroindustrial, para financiar os Partidos políticos que controlam ministérios entregues com “porteira fechada”, a boa e velha tradição do “churrasco dominical” foi tomada de assalto por uma canalha política sem pudores e rancores.

   Neste enredo da chantagem, da propina, do suborno, enquanto as labaredas de fogo queimam “carne estragada” para alimentar uma nação de famélicos e ignorantes, os corrompidos sorriem mansamente entoando o mantra “Sou um homem que vive de seu dinheiro”!!! 


COMENDO LAGOSTAS KKKKKK

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