quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Demolição dentro do Parque Olímpico

“Eu sinto o cheiro desse povo de longe. Aqui é tudo farinha do mesmo saco”, diz funcionária da prefeitura do Rio, ao acompanhar a expulsão dos moradores

Por | 25 de fevereiro de 2016

Às 19h10 da noite em plena quarta-feira, dia 24 de fevereiro, o barulho do trator já era ensurdecedor. Até aquele minuto, dentro do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, três casas da comunidade Vila Autódromo ainda permaneciam de pé. Feitas de tijolo, não combinavam com as arenas esportivas que as cercavam. As enormes estruturas de concreto, construídas em nome da Olimpíada, pareciam discos voadores.

As três moradias faziam parte da comunidade engolida pela Olimpíada. Foram isoladas por uma cerca de arame dentro do perímetro onde os atletas do mundo irão se concentrar em agosto deste ano. Seus habitantes só podiam entrar com crachá e autorização do segurança do megaevento esportivo.

Os moradores sabiam que as suas casas estavam com os dias contados. Uma ordem de emissão de posse (Veja aqui o documento) em favor da prefeitura fora dada às 22 horas da noite anterior. A Pública foi o único veículo a conseguir entrar e filmar o local (Assista ao vídeo abaixo).
 


Heloísa Helena Costa Berto, a mãe de santo Luizinha de Nanã, decidiu ficar dentro da casa, esperando. Quando chega uma ordem dessas, as pessoas da Vila Autódromo já sabem que não serão avisadas sobre a data e a hora em que o trator vai derrubar aquilo que passaram a vida toda construindo. Antes, ali também funcionava o seu terreiro de candomblé. A casa ao lado era da sua filha Anna Raphaela.

Apesar de toda a pressão – ela chegou a ser ameaçada de morte por uma ex-inquilina e foi alvo de humilhações e boatos espalhados pela subprefeitura, segundo seu relato –, dona Heloísa não aceitou as indenizações oferecidas pelo governo municipal. Ela exigia que fosse feito um plano de urbanização na própria Vila Autódromo para reassentar na comunidade os que teriam suas casas demolidas.

No fim da tarde do dia 24, pouco antes das 17 horas, chegaram dois ônibus lotados de guardas municipais enviados pela prefeitura acompanhados de representantes da Secretaria Municipal de Habitação e Cidadania.

“Eu sinto o cheiro desse povo de longe. Não dou papo. Aqui é tudo farinha do mesmo saco. Eles não moram aqui e vivem disso”, foi logo dizendo Marli Ferreira Lima Peçanha, coordenadora de Articulação Social da secretaria, ao chegar ao local.

   Leia matéria completa na Pública.

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