sexta-feira, 31 de julho de 2015

AZIAGO AGOSTO

Millor: Não se fazem ruínas como antigamente...
  Por Emanuel Medeiros Vieira
Narrativa (lembrança) escrita enquanto releio Franz Kafka - santo de minha profunda devoção.
Tiro no coração – Getúlio Vargas, 24 agosto de 1954; renúncia de Jânio Quadros – 25 de agosto de 1961; arremedo de Parlamentarismo, 1961, para que João Goulart (Jango) possa assumir.
O Golpe de 1964 sendo postergado: de 1954; de 1961 (um dia veio)  – ou, mesmo de 1930?
Aziago agosto, longa escravidão, elevador social e de serviço, a frase repetida: “Sabes com quem estás falando?” (Sabemos.)
Vagas para especiais e para idosos não são respeitadas; gorjeta para o guarda não multar, e muito mais. Sujam praias, desmatam, jogam lixo nas ruas – “mas há muito coisa boa”, contrapõe outra voz interior.
E o mundo continua DESSACRALIZADO, além de uma idiotização coletiva (vide a TV aberta), do império do tráfico, de um país mais violento que muitos que estão em guerras declaradas.
Sim: e a banalização do Mal – que ele nunca seja subestimado (pedia meu pai).
O tom solene é dispensável, mas creio: é preciso seguir em frente e não ser vampirizado.
Corrupção, patrimonialismo, desigualdade – limparemos os esgotos? Lavemos...
É preciso deixar alguma esperança: seguro uma flor retorcida do cerrado. (Acreditem: não, não quero ser populista, demagógico.)
A0s 20 anos, romanticamente, achava que isso tudo iria mudar. Aos 70...
“É preciso escrever algo edificante”, reivindica uma voz interior.
Pergunto-me – como Darcy Ribeiro indagava obsessivamente: POR QUE ESTE PAÍS NÃO DEU CERTO?
(Não, não falo de conquistas internas, vitórias pessoais.)
Uma pichação: “Não temo a opressão do governo, mas a inércia do meu povo.”
“Um pensamento: A corrupção no Brasil é endêmica e está em processo de metástase”. (Athayde Ribeiro Costa, procurador que atua na Operação Lava-Jato).
Chegou-se- à degradação sem termos alcançado à grandeza.
Dizia Millor Fernandes: Não se fazem ruínas como antigamente...

(Salvador, 30 e 31 de julho de 2015)

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