segunda-feira, 24 de março de 2014

PLEBISCITO JÁ!


   Por Márcio Dison*
   Recuso-me a escrever o nome da cidade em que moro. Quando preencho um documento abrevio para Fpolis. Houve época em que escrevia Nossa Senhora do Desterro. E ultimamente passei a adotar Ilha de Santa Catarina. Porque homenagear o tirano Floriano Peixoto é o mesmo que adotar oficialmente o título de pato da Ilha dos Patos.

   Não se trata de aceitar a história, como quer o brilhante colunista Sérgio da Costa Ramos. É com os erros históricos que aprendemos a pensar com clareza o futuro. Não consigo me conformar que o nome da Capital do Estado tenha vínculo direto com o massacre de Anhatomirim. O número de mortes causado pelo advento do federalismo pode chegar a 185, alguns muito ilustres ilhéus, outros nem tanto.

   Não se trata de discutir monarquia ou presidencialismo. Estamos falando de mortos sem julgamento por ordem de Floriano. Telegrama de 8 de maio de 1894 diz textualmente: “Marechal Floriano – Rio – Romualdo, Caldeira, Freitas e outros, fuzilados segundo vossas ordens. Antônio Moreira César. A autenticidade do telegrama é contestada mas não existe rua Antônio Moreira César em Floripa. Há um distrito em Pindamonhangaba(SP),onde nasceu. Na Campanha de Canudos, na Bahia, prendeu até padres e acabou morto 12 horas após levar um balaço no abdome, em 1897.

   Por ordem de Floriano Peixoto, militares e civis eram sumariamente presos e fuzilados, outros enforcados num velho pé de araçá na parte sudeste de Anhatomirim. Entre os mortos após a assinatura da ata de rendição ao Governo Provisório consta um herói da Guerra do Paraguai, o Barão de Batovi. A lista oficial de mortos tem 43 nomes. Não importam os números. Há que se discutir as mortes, questionar a homenagem e realizar plebiscito pela mudança do nome da cidade.

   Para resgatar a memória dos assassinados. Não estamos todos a rever democraticamente os atos horrendos da ditadura militar? Por que não podemos recordar e redimir questões mais antigas?

   Um plebiscito para decidir a questão pode ser organizado rapidamente pelos mestres em Informática do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina ainda para o pleito deste ano.

   No momento em que comemoramos os 288 anos da Ilha de Santa Catarina, nada mais justo que toquemos numa ferida ainda aberta em centenas – senão milhares - de corações e mentes que entendem que a história é invariavelmente escrita pelos poderosos, com tinta cor de sangue. Mas nunca é tarde para reparar o que a subserviência construiu ou deixou se perpetuar.

*Jornalista

7 comentários:

  1. Márcio,
    Oportuna e esclarecedoras as suas colocações. Parabéns pela crônica!
    Só acho que voltar o nome da cidade para N. Sra. do Desterro ou até mesmo "Desterro" me soa como uma coisa antiquada, meio nostálgica demais. Temos presenciado nos últimos anos entre a geração "Y" o termo "Floripa" que é um jeito até mais jovem e abreviado de dizer Florianópolis. Mas até esta gíria sugere a relação com o general carrasco de outras eras. Assim, gostaria de sugerir o termo "Florilha" que não está muito distante dá palavra Floripa e ainda serve como sugestão para todos os habitantes desta ilha preservarem o meio ambiente e por conseqüência a vegetação deste pedaço de terra que se permanecerem bem cuidados, aí sim poderemos no futuro nos orgulhar da "Ilha da Flor" ou simplesmente "Florilha". Abs!

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    1. Gosto de BOM ABRIGO. Abraços!

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    2. Acho que o primeiro não foi , então vamos lá.
      Quantos dos ilustres que morreram em Anhato-Mirim eram sapateiros, pintores, pedreiros, barnabés, gente do povo enfim.
      Nenhum? Ah, não eram eles que mamavam nas tetas fartas do Império e ficaram a ver navios quando a farra terminou?
      Ah, membros da elite desterrense (arghh, nomezinho horrivel esse), inconformados com a fechada do cofre. Queriam o que, que Moreira Cesar viesse aqui com flores no cano do trabuco? Tenta aí um plebiscito prá ver se o povo tá a fim de mudar o nome da cidade.
      Anos escuto essa cantilena "saudosista".
      Desterro, isso lá é nome de cidade.

      Francisco

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  2. Tudo é ponto de vista. Justamente por terem rebatizado a cidade é que o massacre nunca foi esquecido. Entre Desterro ( lugar de banimento, degredo, deportação, exílio, expatriação e proscrição) e o nome atual, fico com o 2º: Floripa!

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  3. Perfeitamente lógico e justo! Aonde está a reação dos representantes? Ou tudo de importante cabe aos cidadãos e o que rende dividendos aos politiqueiros?

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    1. Democracia representativa não nos representa. Aos políticos só interessa o filé. Bolas divididas eles não querem. Abraço, Márcio Dison

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