quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Revoada pela cidade

    Ontem foi a primeira vez que voltei ao centro da cidade depois de iniciar o tratamento para hepatite C. Fui visitar os vícios!
    Primeiro, uma reunião na Biblioteca Pública, aliás, exitosa. Depois, fui descendo displicentemente a rua Tenente Silveira em direção à Praça XV. Observava as gentes na cidade. Apressados, sem pressa alguma, trabalhando, em frente às vitrines olhando as modas, descendo do amarelinho, saindo do prédio, com processos para tirar cópias xerox...enfim, gentes no centro da cidade.
    A temperatura amena da primavera me dava uma sensação de agradável leveza. Me sentia bem naquela tarde. Um pouco meio alegre demais, coisa quase beirando um certa euforia. Seria saudades da cidade? Gosto de Florianópolis! Cheguei a desconfiar que, a maravilha toda, poderia ser efeito do monte de remédios que estou tomando diariamente.
    Ri...e pensei: se o tratamento for assim, até que está bom. Um pancadão de dor e ranger de dentes entremeado com momentos de puro prazer...hummm, belezma!
    Sem foco  
   Atravessei o largo da Catedral com alvo na esquina do Bar Roma, na Hercílio Luz. Ali, dobraria à direita rumo à Kibelândia. Manter o foco com essas químicas na cabeça não é lá uma coisa muito fácil. Sou disperso, é da minha natureza, penso várias coisas ao mesmo tempo e executo outras tantas impensadas.
    Em meio ao trajeto fui sugado pela portinhola colonial açoriana que abriga, em uma peça de 2x2, um "clandestino" jogo do bicho. Um balcão baixo com duas atendentes loira simpáticas. Fui direto à garrafa do café. Agora tomo café. Disse a Rochele, enfermeira que cuida do meu tratamento, que o café protege o fígado...me deixa ligado também!
   Joguei no 517, no 811, e no número do prontuário do início do tratamento. Caixão pro Billy! Morto e número de prontuário não dão dinheiro prá ninguém. Melhor seria ter dado uma sestiada e buscado um número nos sonhos. Fézinha feita, atravessei a rua e fui para a lotérica praticar o jogo legalizado, bancado pelo governo.
    
    O amigo  
    Cumpri toda a liturgia, da Mega-Sena acumulada à Loto Fácil, que de fácil nada tem. Na saída escutei um grito, Canga! Canga! Parei, virei para trás e reconheci o amigo. Magro, alto, cabelos brancos e com um rosto radiante. Estava feliz!
    - Olha só Canga, acabei de pegar o resultado do meu último exame de sangue: Zerei!!!! Zerei!!!!
    Falava sobre o tratamento para Hepatite C. Nos conhecemos de longa data. Trabalhava com artesanato e volta e meia aparecia na Kibelândia. Certa feita me pediu a conta do Bradesco emprestada para receber uma grana do Mato Grosso. Gente boa!
    Depois de muito tempo nos encontramos, há duas semanas, no Hospital Celso Ramos. Aí fiquei sabendo que ele já estava há alguns meses se tratando para matar o bicho da hepatite.
- Agora só faltam 7 meses e acabou! Me disse alegre e com aquela sensação de vitória que nada supera.
    Me falou de mais um monte de efeitos colaterais que eu ainda iria experimentar como queda de cabelo e escamação da pele, me deu um abraço e desceu feliz da vida a Fernando Machado. Quando cheguei no  Roma estava o amigo, de novo, comendo um sorvete de máquina que agora vendem ali na esquina. A Rochele me falou que sorvete é uma coisa boa para se comer durante o tratamento. Cumprimentei novamente o amigo e passei batido. Já havia ouvido o suficiente sobre a doença naquele dia.
    Cheguei na Kibelândia e a casa já estava aberta. Passei o "boletim médico" do meu tratamento para os habitués e fui para a minha mesa tentar escrever uma matéria para o blog.
- Canga! Vou ser avô!
   Me comunicou o Dr. Heitor da sua mesa. Me contou, feliz, que o seu filho pegou um avião em Sampa e veio especialmente comunicá-lo de que seria avô. Estava contente e me fez contente também.

    A caminhada
    Não consegui muito progresso na matéria que tentava escrever, faltava concentração. Recolhi a redação do blog por volta das 17:30h e parti para o Campeche com a firme determinação de dar um boa caminhada pelas ruas do meu bairro.
    Passei na casa do amigo Marcos Bayer e saímos Av. Campeche afora. Velocidade mediana e conversa rápida. Analisamos o processo eleitoral, o primeiro e o segundo turno das eleições passando pelo julgamento do Mensalão.
    Quando estávamos na Av. Pequeno Príncipe paramos em frente a um restaurante de comida japonesa e, inadvertidamente, convidei o Marcos para comer uns sushis/sashimis. Convite feito, convite aceito! Ficamos mais uma hora discutindo os rumos políticos do país, comendo peixe cru com água de côco.
Com o fracasso da "empreitada saúde", na saída do sushi achei que estava muito longe de casa para voltar caminhando, voltei de carro com um vizinho.
Fim de carreira...

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