segunda-feira, 17 de outubro de 2011

UBIRATAN REZENDE

     Por Edison da Silva Jardim Filho

    Quem tinha, como eu e pelo menos o público de vinte estádios Orlando Scarpelli e da Ressacada apinhados, a nítida impressão de que o governador Raimundo Colombo era mero zelador do condomínio governamental de Santa Catarina, de muitos síndicos indigestos, deve ter respirado aliviado, porque passou a ter certeza de que não cometia nenhuma injustiça com o somente nominal mandatário máximo do Estado.

     Isso aconteceu depois que foi publicada a entrevista que o então já demissionário secretário da Fazenda, Ubiratan Rezende, deu ao jornalista Cláudio Prisco Paraíso. Parte dela foi postada neste “cangablog”, e devidamente remetido o leitor que a quisesse ler na íntegra para o site do próprio Ubiratan Rezende. Pouco antes dessa entrevista, foi veiculado na imprensa artigo de autoria do ainda secretário da Fazenda, Ubiratan Rezende, intitulado: “Sem reforma, eterniza-se a desordem”. Li a entrevista e o artigo no site “Bira notes”.

     Quando iniciou-se o processo de escolha dos nomes que comporiam o primeiro escalão do governo do Estado que tomaria posse em 1º de janeiro do corrente ano, e foi ventilado que Ubiratan Rezende seria o secretário da Fazenda, notas visivelmente plantadas em colunas políticas da imprensa indicavam que ele não tinha a aprovação de grande parte dos políticos. Lembro-me que logo me ocorreram dois pensamentos. O primeiro: se os políticos não o querem, só pode ser porque ele é diferente deles. O segundo: tempos negros estes institucionais de hoje, em que um intelectual e acadêmico não é bem-vindo na máquina pública para fazer o contraponto necessário, com as suas idéias fruto da racionalização, aos interesses mesquinhos dos políticos profissionais. Ubiratan Rezende é professor universitário no Estado da Flórida, nos EUA, nas áreas de Política e de Gestão de Negócios.

     Pois acertei em cheio! A entrevista e o artigo denotam um ser humano e um cientista político corretos. A entrevista, a despeito do conteúdo forte e consistente, é importante, principalmente, pelo seu subtexto.

    A imprensa vincula Ubiratan Rezende ao Jorge Bornhausen. Agora, sabe-se que equivocadamente. Jorge Bornhausen “apadrinhou”, na política catarinense, um grande contingente de pessoas fracas intelectualmente e arrivistas politicamente, tanto que nenhuma delas, nessas mais de três décadas que transcorreram desde 1.979, defendeu alguma ideia, digamos, interessante, quanto mais um ideal, inobstante os incontáveis cargos políticos que fazem transbordar os currículos de cada qual.

    Mas avancemos nos “finalmentes”. Já no primeiro parágrafo do seu artigo, Ubiratan Rezende desvela a catastrófica máquina administrativa herdada pelo governador Raimundo Colombo de seu antecessor, Luiz Henrique da Silveira: “Em Santa Catarina, por exemplo, de tudo que é arrecadado, 25% são repassados aos municípios, 18% aos Poderes, 13% pagam a dívida com a União. Sobram 44%, menos da metade. Desses, 34% são absorvidos pela folha de pagamento e 6% no custeio, de modo que sobram 4% para investimento.” A palavra: “Poderes” engloba o Legislativo, o Judiciário e os órgãos que deveriam ser de controle externo: Ministério Público, Tribunal de Contas e Ministério Público junto ao Tribunal de Contas.

     A causa do descalabro administrativo histórico em Santa Catarina, como, de resto, no Brasil inteiro, é a grilagem que os políticos e os seus grupos fazem do erário, através da apropriação das estruturas administrativas de governo, com vistas a financiar as suas eleições “compradas” e a perpetuação dos seus mandatos. Disse-o, com todas as letras, Ubiratan Rezende na entrevista: “Se a proposta for a de manter o status quo, a mesma lógica de cooptação da sociedade e encastelamento de diferentes grupos políticos no aparato estatal (Executivo, Legislativo e Judiciário), o investimento necessário para a prestação de serviços tais como segurança, saúde, educação, infraestrutura fica em segundo plano e, assim sendo, o volume de recursos que irá para este fim não será tão grande.” No artigo, ele também não usou de subterfúgios para colocar o dedo nessa chaga aberta e, pelo visto, incicatrizável da política brasileira: “A cultura política do País sempre foi marcada pelo elitismo, clientelismo, fisiologismo e patrimonialismo.”

     Como todo idealista, apesar do seu preparo e experiência, Ubiratan Rezende foi ingênuo e o confessou- aqui, o primeiro subtexto- na entrevista. Por haver muita resistência da classe política ao seu nome e Raimundo Colombo bancar a escolha, ele concluiu que o governador tinha decidido libertar-se da perversa lógica que agrilhoa os políticos. O erro dele foi pensar que o governador pensava, ao insistir na sua nomeação para secretário da Fazenda. Ubiratan Rezende falou isso na entrevista, quando indagado sobre a manutenção, pelo governador Raimundo Colombo, das 36 Secretarias de Estado de Desenvolvimento Regional: “Acompanhei pela internet a celeuma provocada pela indicação do meu nome para secretário da Fazenda. Ele enfrentou uma reação enorme e fechou questão. Diante disto, pensei: é o seu grito de independência, porque a Secretaria da Fazenda é emblemática, dela fluem recursos para sustentar a lógica do processo político e, por consequência, a lógica da gestão administrativa.” Mas como alguém que passou a vida pública inteira só podendo escolher, nas respostas que dava ao Jorge Bornhausen, entre o “sim, doutor!” e o “sim, senhor!”, ousaria, em algum momento, mesmo que fosse na condição de governador, dar o “grito de independência”?

     Ubiratan Rezende, na entrevista, descreveu assim o momento em que a realidade da natureza da personalidade do governador Raimundo Colombo desabou-lhe sobre a cabeça como uma rocha monolítica: “Aí, na primeira reunião que tivemos para discutir o assunto, ele me fez ver que não tinha condições de adotar no momento algo muito diferente da realidade que todos nós conhecemos. Ficou claro para mim que ele entendia que as condições políticas do processo exigiam outra coisa.” Não faz tanto tempo que o já candidato declarado a governador, Raimundo Colombo, tachou as Secretarias Regionais de “cabides de emprego”, e foi praticamente ontem que ele, justificando a sua saída do DEM para criar o PSD, afirmou: “Chega de política velha!” Em seguida, perguntado sobre a sua opinião a respeito do governador Raimundo Colombo, Ubiratan Rezende respondeu: “Permanece a mesma. O Raimundo é uma pessoa boa, uma pessoa íntegra, que busca sempre pacificar e acomodar os interesses. Isso são virtudes extraordinárias. As pessoas acham que eu tenho relacionamento com ele de muitos anos. Não tenho, não. É de pouco tempo.” Eis, aí, o segundo e o terceiro subtextos da entrevista de Ubiratan Rezende: Raimundo Colombo é um boneco nas mãos dos ventríloquos vorazes de dinheiro público que todos conhecemos; e o erro na avaliação da personalidade, digamos, frágil do governador deveu-se ao pouco tempo de amizade entre eles.

    Esse episódio da demissão de Ubiratan Rezende do cargo de secretário da Fazenda é exemplar do péssimo funcionamento da democracia brasileira.


 L.A. deixou um novo comentário sobre a sua postagem "UBIRATAN REZENDE": Ubiratan foi derrubado pelo pessoal do Gavazzoni, será que o Governador Colombo não enxerga isso não? Muita gente a puxar o tapete na Secretaria da Fazenda, só porque o Ubiratan queria cortar gastos excessivos dentro da pasta. Inclusive a ideia era rever as Gratificações absurdas e inconstitucionais que ganham Contadores e Auditores Internos. E ainda querem mais, este pessoal cheio de privilégio e que trabalha só 6 horas diárias. 


Roberto Scalabrin deixou um novo comentário sobre a sua postagem "UBIRATAN REZENDE": Prezado Canga: Fico preocupado quando vejo comentários sobre o comprometimento da arrecadação com 34% para folha de pagamento e 6% para o custeio como se isso fosse o problema. É bom que as pessoas se lembrem que na Segurança e na Educação é preciso que tenhamos pliciais e professores e que grande parte desses recursos são gastos com os seus salários. 

 Lila deixou um novo comentário sobre a sua postagem "UBIRATAN REZENDE":
Caríssimo! Acho que com a estrutura de Estado que temos, com as instituições e mecanismos de governo podres e teimando em manter o que há pior, não tem democracia que vingue. Abraço!

5 comentários:

  1. Sei, me diz alguma coisa boa que o visionário fez... Bira pra governador? Dos EUA!

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  2. Roberto Scalabrin17 outubro, 2011 18:30

    Prezado Canga:
    Fico preocupado quando vejo comentários sobre o comprometimento da arrecadação com 34% para folha de pagamento e 6% para o custeio como se isso fosse o problema. É bom que as pessoas se lembrem que na Segurança e na Educação é preciso que tenhamos pliciais e professores e que grande parte desses recursos são gastos com os seus salários.

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  3. Caríssimo! Acho que com a estrutura de Estado que temos, com as instituições e mecanismos de governo podres e teimando em manter o que há pior, não tem democracia que vingue. Abraço!

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  4. Ubiratan foi derrubado pelo pessoal do Gavazzoni, será que o Governador Colombo não enxerga isso não? Muita gente a puxar o tapete na Secretaria da Fazenda, só porque o Ubiratan queria cortar gastos excessivos dentro da pasta. Inclusive a ideia era rever as Gratificações absurdas e inconstitucionais que ganham Contadores e Auditores Internos. E ainda querem mais, este pessoal cheio de privilégio e que trabalha só 6 horas diárias.

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  5. Um desses problemas é que o tão falado governo técnico virou político e de carreira:
    Imconpetência de Presidente, Diretores e gerentes

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