sexta-feira, 19 de agosto de 2011

De terrorismo, assaltos, naufrágios e remédios

Por Laurita Mourão
  
Querido Sergio, grande Canga !

    Lendo sobre novos usos para velhos remédios que já temos em nosso extenso arsenal terapêutico, fiquei sabendo que estão sendo realizados programas de computador sugerindo indicações alternativas para medicamentos tradicionais. Assim, por exemplo, Atul J. Butte, da Universidade de Stanford, publicou, na edição eletrônica da revista "Science Translational Medicine", importante artigo dando vários exemplos de remédios que, usados já em determinados tratamentos com êxito, estão agora servindo para tratar outros males com também evidente bom resultado.
     Ainda em princípio tal abordagem criativa, rápida e barata para novos usos de certas drogas, segundo Rochelle M. Long, diretora de Pesquisas Farmacológicas dos INS (Institutos Nacionais de Saúde) dos Estados Unidos, o assunto em pauta é de especial importância para os sempre caminhos do progresso da Medicina.
     Aparece, então, nessa mesma ordem de idéias, "uma milagrosa pílula" para apagar totalmente da memória os casos de vividas experiências trágicas, em lugar das longuíssimas sessões de terapia com o consequente gasto de fortunas com psiquiatras. O uso dessa pílula para aquelas pessoas que tenham sofrido um grande drama, como assaltos, incêndios, atos terroristas, naufrágios e/ou ainda outras experiências traumáticas, embora venha a causar importante discussão ética por ser tão delicado o tema, desde já é a corajosa proposta do Professor Adam Kolber, da "Brooklyn Law School", em Nova York, também editor do blog "Neuroethics & Law".
     Nesse artigo publicado recentemente,o Professor Kolber defende e aconselha que tais pílulas fariam com que pessoas fortemente traumadas por dramáticas experiências vividas, poderiam recomeçar, aliviadas, suas vidas, "esquecendo", erradicando de suas mentes quase totalmente, o vivido e sofrido.
     Esse neurocientista completa com seu comentário que, salvo o uso dessa milagrosa pílula, o que resta é o tratamento clássico contra essas experiências desagradáveis e que consiste na "Extinção": fazer a vítima, acompanhada de seu psiquiatra, ver e rever "muitas vezes" cenas semelhantes às sofridas, em telas de TV ou de cinema "devendo depois FALAR sobre elas".
     Lendo tudo isso, lembrei-me logo do velho General Mourão, meu pai, culto e sempre grande conselheiro que, nos idos anos quarenta, ainda sob alguns bombardeios da Segunda Guerra Mundial, a minha amiga de infância, Magdalena de Abaeté, já casada com Luiz Felipe Saldanha da Gama, embarcou, no Rio, num navio com destino a Lisboa para encontrar-se ali com seu marido nosso Adido Naval, sofrendo o terrível naufrágio dessa nave bombardeada em águas brasileiras pelos canhões alemães. Ela ficou em cima de um pedaço de madeira, quase sem roupa, sozinha, rodeada de tubarões, na noite escura do Oceano Atlântico durante mais de onze horas até ser milagrosamente salva !!!
     A Professora Jorgina Otonni Limpo de Abreu, mãe dela, grande amiga dos meus pais, desesperada, perguntava ao meu pai o que deveria fazer para trazer sua filha à vida normal esquecendo o terrível drama vivido !
     Foi, então, quando o Mourão lhe respondeu: "Jó (como carinhosamente era chamada) escolhe doze amizades suas, leva a Magdalena com você às casas delas e que ELA CONTE COM DETALHES em cada casa como aconteceu o bombardeio, o naufrágio, as horas passadas sozinha no mar até ser salva, e você verá como a nossa linda Magadalena, em pouco tempo, vai esquecer tudo e voltar à vida normal para criar o bebê que ela já tem" !!!

    E a julgar pelo comportamento da minha querida amiga Magdalena, hoje com 87 anos, deu certo.
 

    Meus respeitosos carinhos para você, esposa e neta Luisa,
da amiga Laurita Linhares Mourão de Irazabal.

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