quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Uma tarde com Emílio Toma

Canga, Emílio e Laura
 Não resisti ao convite para um encontro que Emílio fazia por telefone. Amigo de juventude, mílio estava em um resort à beira mar na Praia dos Ingleses. Perguntei se tinha cerveja. O resto estava garantido, que seria uma boa conversa, excelentes lembranças  e muita alegria.
Quando cheguei nos abraçamos afetivamente e beijei Laura, sua companheira e filha do Marreco Ipar, conhecido meu de Artigas, irmão do Mancha Ipar (clique aqui) sobre quem já escrevi anteriormente.
Encontrar velhos amigos sempre é muito legal. Tive o privilégio de passar uma tarde com meu amigo uruguaio Emílio Toma, que está "turistiando" por Florianópolis com suas duas filhas, encantadoras e sua companheira.
Não é difícil ser feliz frente ao mar azul de Ingleses com pessoas inteligentes e queridas ao lado. Um pequeno isopor fez a sua parte de geladeira com cervejas bien heladas.
Falamos de tudo. Dos amigos, das situações engraçadas que vivemos na juventude e de nossas vidas.

Um Dauphini
A conversa foi se aprofundando, voltando cada vez mais no tempo e o tempo fazendo estragos nas nossas memórias. A todo o momento nos perguntávamos um ao outro: como era mesmo o nome daquele...? Ríamos disso! Faz parte.
Mas havia uma história que eu queria confirmar. Qual era o auto (móvil) do Negro Terra, guitarrista, da banda de rock Tinta China.
Tinta China - Pato Soares, Emílio Toma, Leonardo Ribeiro, Negro Terra e Miguel Toma
 Eu lembrava de uma história mas não conseguia lembrar de todos os personagens. Então Emílio - que deve ter algum trato secreto com aquele velho alemão - começou a descrever nomes, sobrenomes e situações da história com uma clareza de memória de dar inveja a qualquer um. Lucido!

A história
O ano era 68 ou 69 - aí Emílio deu uma rateada pois não tinha certeza da data. Acho que era 1970. Eu e Leonardo Ribeiro, músico e amigo de infância, erámos dos poucos brasileiros que tínhamos turma em Artigas, cidade do Uruguai na fronteira com Quaraí.
Leonardo tocava na maravilhosa banda de rock de Artigas chamada Tinta China. Da banda faziam parte o Negro Terra, Pato Soares e os irmãos Miguel Angel e Emílio Toma. Todos excelentes músicos.
A banda foi contratada para tocar em um aniversário de 15 anos no Club Deportivo. Como era amigo da banda e andava sempre na volta, resolvi dar uma de crooner. Na verdade, mais que cantar, queria encantar uma linda jovem uruguaia que estaria na festa. Ensaiei uma música dos Incríveis achando que faria o maior sucesso.
À tarde teve a montagem dos instrumentos em meio a decoradores que colocavam flores pelo salão e técnicos de iluminação preparando a festa em grande estilo. Os músicos passaram o som (hola dossssss) e eu dei uma ensaiada final me achando "O crooner"! O plano estava perfeito. Nada poderia dar errado!
À noite, muita gente bonita lotava o salão do clube. A aniversariante, maravilhosa em seu vestido branco, dançou a valsa com o pai, logo enseguida com o prometido e depois com primos, tios e amigos. Era pura felicidade.
Gente de todas as idades circulavam, dançavam e conversavam animadamente nas mesas. Os garçons não paravam de atravessar o salão com baldes de gelo e garrafas de whisky em bandejas equilibradas em uma só mão acima das cabeças dançantes. Um show. Jorge, filho do Juan, gente da mais tradicional linhagem de garçons da fronteira não nos deixava de bico seco. Éramos amigos.
Lá pelas tantas, com a festa bem animada sob o efeito do combustível, chegou o momento da minha avant première! Após uma pequena interrupção ataquei de "Adeus Amigo Vagabundo", um tributo a Jimi Hendrix, dos Incríveis.
Comecei bem. A banda quebrando todas me dava uma retaguarda no back vocal. Fui ganhando confiança e soltando a voz. Estava chegando lá. Ufa!
Mas na vida nem tudo acontece como a gente planeja. De repente, irrompendo do meio do salão, um senhor engravatado que aos gritos disse:


-Brasilerito! Canta un tango!!!!


La mierda!!!!!


A voz tremeu! Perdi o foco e a letra sumiu da minha cabeça. Quando retomei a música, fui para um lado e a banda para outro. O verso interrompido pelo inculto musical, um selvagem, busco até hoje. Aquele beija-flor que pensava estar criando se transformou em um morcego!
A raiva e a vergonha do fracasso me transformou, também, em um selvagem. Parti para cima do homem que destrui a minha carreira musical com todo o vigor dos meus 17 anos.
Uma festa feita de parentes não pode dar em outra coisa. A parentada avançou sobre a banda na defesa do Sr. tangueiro.
Saímos correndo escadas abaixo e a turba multa atrás, aos gritos. O Negro Terra tinha um Dauphini estacionado a meia quadra do clube e três dos músicos entraram no carro na esperança de saír dali o mais rápido possível. Acontece que era inverno e o carro estava frio. Na primeira pegada de arranque as três vítimas sentiram que estavam ferrados. A massa se avolumava no parabrisa traseiro do pequeno carro francês. 
Bem, Leonardo, o manager e eu corríamos como loucos em direção a estação do Ferro Carril, com as pernas já frouxas de tanto rir.
Dono de uma auto estima elevada, não sou de me entregar, associei o incidente a uma cena que havia visto, no Cine Artigas, dos Beatles correndo...das fãs. Não era o nosso caso. Mas era quase!

El maestro Sarmiento
Na segunda-feira à noite começavam as aulas do primeiro Científico, recentemente implantado em Quaraí. Estávamos lá Leonardo e eu. Primeira aula de Física. De repente irrompe pela porta o mesmo senhor que havia me interlepelado durante a minha aventura musical. Chegou falando em portinhol e já foi avisando:


- Brasilerito ! Quero ver se és tão bom nos estudos como és com as mãos!


Era o maestro Sarmiento. Funcionário de OSE, no Uruguai, e professor de Física. Excelente professor. Nos tornamos grandes amigos.  A música perdeu um grande intérprete, mas a humanidade ganhou um grande tomador de cerveja, como o professor Sarmiento.


* Existe outras versões para o final da história da fuga do Deportivo. Mas essa é a minha e a que lembro.


  • Emilio Toma ENCUENTRO CON UN QUERIDO AMIGO, CANGA. QUIEN ES DUEÑO DE UNA RIQUÍSIMA HISTORIA, QUE ALGÚN DÍA ESTARÁ EN ALGÚN LIBRO. FUE UNA GRAN ALEGRÍA, COMPARTIR MOMENTOS E HISTORIAS.
  • Mirza Ivonne Martínez Ipar Que bueno, gente maravillosa el Canga me alegra que se hayan encontrado. Besos a los tres!!
  • Cyr Perez Mirá el Canga! Está igualito solo que con el pelo blanco! Qué bueno que pudieron juntarse y disfrutar de una linda reunión!!

  • Sergio Rubim No es pelo blanco Cyr. Estoy usando una tinturas para hacer luces que me trajo Emílio. La misma que usa. Es americana. Se llama time.
  • Carmem Rubim Se eu soubesse do encontro, teria ido vê-los também. hehehe
    Que bronzeada está Laura!!!
    Beijos
  • Cyr Perez Jaja... pero Emilio se ve que hace más tiempo que la usa!! Dónde vivís? Qué hacés?

  • Sergio Rubim Soy periodista e vivo en florianópolis. www.cangarubim.blogspot. com
  • Cyr Perez Ah! Mirá! En el mismo Florianópolis... entonces estaba cantado el encuentro!! Si algún dia voy, te aviso. Después voy a mirar tu blog.
     
  • Cyr Perez Más bien que no voy a mirar tu blog porque no se abre... me dice que quizás hay un error de digitación y que no puede cargar la página?? Revisá, porfa.
     
  • Mirza Ivonne Martínez Ipar Cyr podes entrar al blog por Facebook. Todos los dias publica algo!!
  • Cyr Perez Ahora si! Gracias y muy bueno el artículo!! Pena que se frustró tu carrera musical, pero dio paso a un gran escritor!!
     
  • Mirza Ivonne Martínez Ipar Canga!! me hiciste retroceder como en un tunel del tiempo. El Aleman no es tu amigo ya que ni se ha acercado a ti, los recuerdos fluyen y son descriptos con una vivencia fantastica. Que hermosos tiempos aquellos de los bailables con nuestros musicos. Los Bohanes y todos los que los siguieron, aun nos sacan sonrisas de alegria solo con mirar atras. Gracias por recordar una parte de tan linda juventud.Te has transformado en un MUSICO DEL ALMA. Beso
     
  • Lilethel Souto
    Estimado Canga! Leí tu historia y me encantó, me reí mucho recreando en mi imaginación los hechos. Tú no me conoces pero no me puedo olvidar en otro cumleaños de 15, también en el Club Deportivo, (de los primeros que yo iba) cuando estaba ...la misma banda tocando tu cantaste "Jesuscristo", quedé impactada porque no sabía que cantabas y era un tema que me calaba hondo. Nunca me olvidé de esa escena fue algo que quedó grabado en mi recuerdo de la adolescencia. Me alegró mucho saber de tí después de tantos años y que escribas tan bien, tienes una nueva fan, ja ja. cariños.
     
  • Cyr Perez
    Bueno, yo no quise decir nada, pero me emocionó que nombraras a Juan y a su hijo Jorge. Son personajes de Artigas que uno lleva muy hondo en la memoria, y me acordé de ellos y de los platos que nos servían en el Club Uruguay, en los cumple...años de 15... y toda la descripción del ambiente me pareció muy vívida, como si lo estuviera viendo y no leyendo. Me gustó el título que te dio Ivonne de "Músico del alma" y para seguir emocionando a la platea vas a tener que desempolvar más recuerdos y compartirlos en tu blog!! Me apunto con Lil... otra fan! jaja!!
     
  • Lilián Lagreca Canga:me encantó la historia del cumpleaños de 15;tan bien explicada,que parece que vemos la escena; acá hay otra fan;me quedo con tu blog para mirarlo diariamente.Tendrás alguna historia más de esa época de Artigas,me imagino.Un saludo y felicitaciones.

Um comentário:

  1. Conheci o Tinta China posteriormente en "La Cueva Negra". Grande banda. Na foto, Leonardo ainda usava cabelo.Bom tempo.
    Sílvio

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