sexta-feira, 4 de junho de 2010

Era uma vez uma praia chamada Armação


Foto de Fabrício Escandiuzzi

Por Sergio Rubim

Localizada em uma ilha ao sul do Oceano Atlântico, a Armação era o paraíso de moradores e visitantes. No verão era uma maravilha. Praia extremamente aprazível.
A paisagem não poderia ser mais linda. De sua generosa faixa de areia se podia (antigamente) enxergar um mar azul e infinito, cortado apenas por uma pequena ilha que valorizava ainda mais aquela visão apreendida pelo olhar.
À direita, um riacho que desaguava no mar. Descia pelas encostas dos morros, emoldurado por árvores de vários calibres e espécies. Ao sul, as montanhas! O paraíso!

Lugar tão bonito não poderia ficar impune por tanto tempo. O bicho homem tem essa capacidade de destruir tudo o que gosta.

Com o tempo e popularidade do paraíso, muita gente foi chegando. Primeiro para visitar, e depois para morar. Os habitantes locais gostavam de receber os visitantes e lucravam com isso. Aos poucos, foram se encantando com as moedas trazidas pelos estranhos e fazendo a troca de terras por dinares.

Era o começo do fim.

A ocupação da pequena praia se deu de forma rápida e desordenada. Não se respeitaram os passeios públicos e os terrenos eram ocupados por construções até a beira das ruelas, sem espaço para calçadas.
Mas o pior ainda estava por vir. Com o tempo a ganância visual dos novos proprietários foi aumentando e cada um queria se apropriar do maior espaço, com a melhor paisagem à sua frente. Começaram então a construir na beira da praia. Não respeitaram nada. Nem mesmo a faixa de areia, dunas e restingas.

Mas como isso seria possível, se no reino existia uma lei ditando que só se poderia construir em uma faixa de 30 metros após a última grande maré?

Bem, como os reis e vice-reis deste pequeno reino sempre foram gananciosos - assim como os próprios locais da Armação -, trocaram as licenças de construção por algumas moedas. Não algumas, muitas!
E aí foi um festival de moedas para todos os lados. Para fiscais do reino, diretamente para o rei, ou para agentes da instituição que cuidavam da postura em lugares de frágil existência.

Frágil era o que pensávamos!

As construções foram se acumulando à beira mar e todos estavam contentes. Os únicos a levantar a voz foram os bixos-grilos, grupo étnico muito comum no lugar. Vendo os espaços onde passeavam sendo cada vez mais reduzidos, praguejavam em frente às mansões:

-Isso não vai ficar assim! Um dia o mar vem e toma o que é dele de volta!

Falavam como se o mar fosse uma instituição espírita, com vida e consciência. Eram motivo de chacota. Bem, são os bixos-grilos mesmo, né? Essa é a função deles. Gente desprovida de tudo, aquelas previsões pareciam motivo de inveja.

Mas não eram!

Um dia o mar "se revoltou" e veio buscar o que era seu.
Durante vários dias, enquadrilhado com o amigo vento suli, bateu na praia com força jamais vista no reino. Dia e noite, os proprietários assistiam impotentes o avanço das águas de dentro de seus terrenos e casas à beira mar. Casas e terrenos, açoitadas por fortes ondas, começaram a ceder e a ruir.

Era o fim daquele começo!

Foi tudo por água abaixo. Deques de madeira e concreto, salas, cozinhas, quartos, casas inteiras.
A revolta do mar tinha um barulho que parecia um deboche. Os ataques coordenados e constantes eram acompanhados pelos uivos do vento suli e pelo rugido do mar. Era fúria misturada com raiva. O mar, além de destruir as casa e jardins, engolia tudo e depois devolvia à praia, numa espécie de vômito revanchista.

Os bixos-grilos devem estar dando risada, invejosos que são.

Mas nem tudo está perdido.

Um escrevinhador maldito do pequeno reino acaba de descobrir qual a nova fonte de renda da pequena praia da Armação. Uma nova forma de atrair visitantes e suas moedas valiosas. Antes convidados a se esbaldar na beleza da praia, hoje chamados pelo grito de desespero do lugar.

Ontem visitei o ex-paraíso da Armação e não conseguia lugar para estacionar minha carruagem. Era muita gente desenhando, pintando e fotografando a catástrofe. Era muita gente praticando que o escrevinhador maldito cunhou como o TURISMO MACABRO.


Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Era uma vez uma praia chamada Armação": Nossa, realmente é bom saber que há tanta gente esclarecida.
Como todos sabemos toda Costa de cima, de dentro, Pântano do Sul e Campeche era fundo do mar há até cinco mil anos atráz.Geologicamente falando, esse tempo é ontem.Significa que toda essa região obedece a um ciclo natural que inclui até mesmo casas longe da praia e a LAGOA DO PERI de dez mil anos aproximadamente.O problema é que nós estamos aqui agora.

Óbvio se torna que a verdadeira motivação da construção do muro é a preservação da Lagoa do Peri, este manancial de àgua doce que abastece todo sul da ilha. Um tanto juvenil seria achar que é por causa dos espertos que moraram mais perto da praia. Todo sul da ilha é em cima de AREIA.

Ia acontecer tendo ou não casas ali.O homem acelerou o processo.O consolo fica em sabermos que as casas que estavam sobre as dunas já se foram. Me preocupa saber quem serão os próximos a serem apontados como espertos e até que ponto isso vai chegar.
Concorcordo com a proposta de despovoar todo o sul da ilha um dia. Deixar a natureza e nos retirarmos todos num exôdo para a palhoça ou quem sabe, com sorte para a serra catarinense.
Em tempo, na Europa, EUA e Inglaterra existem diversas praias de mar aberto que foram contidas e que possuem sistemas praiais semelhantes ao do sul da ilha. A Holanda não precisa sequer ser citada.


José Henrique Fontes deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Era uma vez uma praia chamada Armação": Quanta bobagem que se escreve.
Parece que é o ciúme de alguém que não teve a oportunidade de ter uma propriedade à beira mar,eu não tenho!
O que está acontecendo é um fenômeno que independe do fato de alguém ter construído uma casa a 30 40 50 ou 100,00 metros do mar.
Os oportunistas de plantão, os incompetentes que governam nossa cidade se tivessem visão e boa intenção chamariam especialistas Portugueses com vasta experiência em hidrologia marinha. O homem é nada perante a força do mar. Não é uma casa construída às margens da praia que vai atrair a ira dos deuses do mar. O que está acontecendo é um fenômeno relacionado às correntes marinhas que em determinados tiram a areia das praias através das ressacas e por vezes fazem crescer ou engordar determinadas praias.
Quem conhece Cachoeira do Bom Jesus sabe o quanto o mar avançou sobre o a praia, são dezenas de metros, alguns falam em mais de 100,00 metros, mas não por culpa de quem construiu uma casa, mas em decorrência de fatores outros onde o homem que habita a praia em nada interferiu.
Quem está rindo à toa da destruição que os moradores das praias da ilha estão sofrendo, deveria estar indignado com os "estrangeiros" que moram sobre palafitas na Ponta do Leal.
Nossos administradores estão jogando dinheiro fora com o paliativo de jogar pedras à beira mar.
Precisamos de um projeto de Engenharia que resolva o problema, não é com palpites e oba, oba que o problema vai ser resolvido.
O problema será resolvido com ENGENHARIA


Cangablog: Caro josé Henrique,

este blogueiro há muito não acredita em carochinha ou Papai Noel. Se curtiu alguns deuses foram os do olimpo da mitologia grega. Todos sabemos que o que está ocorrendo é um fenômeno natural e que as casa construídas em cima das dunas nada tem a ver com isso. A destruição é apenas consequência do "avaço" das construções em lugar indevido.


Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Era uma vez uma praia chamada Armação":
Caro Canga!
O Turismo Macabro não nos assusta tanto (coisas do bixu homi) como a tentativa de compreensão da construção de um MURO DE CONTENSÃO de pedras, muitas pedras, para proteger estas casas construídas nas dunas, por espertos com os bolsos cheios de moedas valiosas!!!!
Sim, pq se avaliarmos bem, quem somos nós para contermos o mar???? A Natureza! Muita pretensão.
Correto sim, tentarmos fazer nossa parte para diminuir tamanhas revoltas da natureza com o aquecimento Global.
Muitas considerações há de se fazer: Pergunta-se pq os "nativos" não constroem suas casas à Beira Mar???? Alguns defendem a tese que para ganhar mais, vender bem, e construir boa casa longe dele!
Discordo. Creio que exatamente pq cresceram ouvindo que tudo que se tira do mar ( além do sustento) ELE vem tirar.
Os ditos bixo grilos ouviram isto e repassaram.
Tudo isto me faz lembrar a catástrofe que abalou a cidade de Blumenau em 2008.
Muito se falou que esta catástrofe não atingiu somente os "menos favorecidos" que ocupam os morros à Luz do Dia.
Mas também os mais "abastados" que pagam impostos, construiram tudo dentro da lei, etc, etc, etc.
O que não se falou foi que estas casas, dos mais abastados, foram construídas com uma super estrutura da engenharia, em encostas super valorizadas por não pegarem enchente. E que a maioria das licenças foram liberadas em épocas de eleição eleitoral.
Tudo no mesmo Balaio de Gato.
Espero voltar á Armação e não ter que tirar fotos dos muros de pedra.
Ainda nos resta o Campeche então

2 comentários:

  1. Caro Canga!
    O Turismo Macabro não nos assusta tanto (coisas do bixu homi) como a tentativa de compreensão da construção de um MURO DE CONTENSÃO de pedras, muitas pedras, para proteger estas casas construídas nas dunas, por espertos com os bolsos cheios de moedas valiosas!!!!
    Sim, pq se avaliarmos bem, quem somos nós para contermos o mar???? A Natureza! Muita pretensão.
    Correto sim, tentarmos fazer nossa parte para diminuir tamanhas revoltas da natureza com o aquecimento Global.
    Muitas considerações há de se fazer: Pergunta-se pq os "nativos" não constroem suas casas à Beira Mar???? Alguns defendem a tese que para ganhar mais, vender bem, e construir boa casa longe dele!
    Discordo. Creio que exatamente pq cresceram ouvindo que tudo que se tira do mar ( além do sustento) ELE vem tirar.
    Os ditos bixo grilos ouviram isto e repassaram.
    Tudo isto me faz lembrar a catástrofe que abalou a cidade de Blumenau em 2008.
    Muito se falou que esta catástrofe não atingiu somente os "menos favorecidos" que ocupam os morros à Luz do Dia.
    Mas também os mais "abastados" que pagam impostos, construiram tudo dentro da lei, etc, etc, etc.
    O que não se falou foi que estas casas, dos mais abastados, foram construídas com uma super estrutura da engenharia, em encostas super valorizadas por não pegarem enchente. E que a maioria das licenças foram liberadas em épocas de eleição eleitoral.
    Tudo no mesmo Balaio de Gato.
    Espero voltar á Armação e não ter que tirar fotos dos muros de pedra.
    Ainda nos resta o Campeche então .

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  2. Espero, com toda a força do meu ser, que isso também venha a ocorrer no Morro das pedras, no Campeche, no resto da Barra, nos Ingleses, em Canasvieiras e, a glória das glórias, que um dia isso aconteça em Jurere Internacional. Bom, se não der em Jurere, poderia ser no famoso resort do Santinho, o que daria no mesmo.

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