Do Cañas Homepage
Para a cerimônia de formatura, ocorrida este mês (fevereiro), o paraninfo da turma, professor Fernando Evangelista, preparou um excelente discurso sobre a profissão de Jornalista. Tomo a liberdade de reproduzir na integra.
Emanuel Medeiros Vieira
Tendo mais de 20 anos, a representação política no Distrito Federal (para a qual lutei e me arrependo), não trouxe qualquer benefício para Brasília.
Pelo contrário.
Escândalos, corrupção, cobiça, trapaças.
Tem sido um verdadeiro faroeste caboclo, espécie de gangsterismo do cerrado.
São tantas as tramóias, que consumiria muito papel citar exemplos do constante desrespeito ao cidadão honrado (que ainda paga pela péssima imagem dos políticos da capital) que aqui vive.
Apenas uma: pela denúncia de Durval Barbosa, parlamentares da base aliada (ligados a José Roberto Arruda) receberam cada um R$420 mil pelo voto favorável à aprovação do Plano Diretor de Ordenamento Territorial de Brasília (PDOT).
Como o PDOT foi aprovado por 18 votos a favor, essa conta fecha em R$7,5 milhões.
Segundo o delator do esquema de corrupção em Brasília, apenas um deputado distrital, evangélico poderoso de Taguatinga, teria recebido R$6 milhões para apoiar a eleição de Arruda.
(Como o barco afundou, os seguidores deste senhor o abandonaram.)
Ele deveria aceitar a delação premiada e contar tudo o que sabe. E tudo o que fez.
Agora, todo mundo se manifesta contra intervenção.
O maior jornal da capital vive fazendo editoriais contra, falando em golpe.
Porque recebe muito (mas muito mesmo!) dinheiro em verbas de publicidade.
A Câmara Legislativa (conhecida como a Casa dos Horrores), o Clube de Diretores Lojistas, a OAB daqui (cujo presidente pertence a um escritório de advocacia que defende Arruda), os empresários, a CUT, também o PT, o deputado Geraldo Magela, do PT, (que quer ser governador), os sindicatos, o senador Cristovam Buarque (que ficou mudo durante toda a crise): todos são contra.
Agnelo Queiroz, ex-deputado federal do PT (que saiu do PCdoB), que foi ministro dos Esportes e também aspira ser governador do DF, assistiu aos vídeos antes da sua divulgação.
E ficou caladinho.
Ele também é contra.
E Joaquim Roriz também é contra.
Ah, o Lula também não quer a intervenção.
(Que turma boa, hein?)
É estranho.
Todos unidos contra a intervenção.
Como tanta gente assim sendo contra a intervenção, o bom senso indica: ela deve ser o melhor caminho.
Por que a mamata iria parar?
Por que os cofres públicos parariam de sangrar?
Por que, no fundo, um interventor idôneo faria uma auditoria rigorosa nas contas do GDF.
Disso todo mundo tem medo.
A intervenção é a única saída.
Todos os poderes estão contaminados: é um processo de metástase.
Talvez ela não saia, porque a pressão é fortíssima – e de gente muito poderosa que, a rigor, manda no Brasil desde 1500.
(EMANUEL MEDEIROS VIEIRA*
*Escritor, morador de Brasília há 31 anos)
Estou neste momento sobre o Mediterrâneo rumo a Madrid. São 9:50h da manhã. Foi um noite difícil. Sono agitado. Deixar a Luisa, minha neta de oito dias e minha filha não foi fácil. Fiquei impressionado como, em tão pouco tempo, uma criança pode tomar conta da vida de uma casa e das pessoas. Presença constante e demanda total. Cosa max amada!!!
Deixar Nice, depois de 27 dias, também dá uma certa tristeza. Já me sentia um niçoise. Conhecia os funcionários do Cassino e do Inter machet os dois minimercados “perto de casa”. Sem falar nos donos da revistaria onde jogava na Loto e na Euro Milliones. A moça do locutório que, com o nosso contato diário, passou a falar português. De tarde, às vezes, sapecava um sonoro Bom noite!
Afora amizades que fiz na noite e em um snak bar ao lado do hospital onde nasceu Luisa. Aí, aprendi um jogo de dados diferente, o 421. Interessante!
Ainda ontem à noite saímos com chuva, eu e a Gisa, para jantar. Segunda-feira à noite, fora da temporada não se encontra muita coisa aberta. Caminhamos pela chuva até a Promenade des Anglais e não encontramos nada aberto. Entramos em direção à Rue de France e logo entramos em um restaurante italiano. Os italianos são presença constante em Nice. A fronteira com a Itália está apenas à 30 quilômetros, em Menton, cidade do citron (limão).
Pedimos dois pratos de massa com frutos do mar, um bom vinho e ficamos observando, pela janela, o calçadão molhado pela chuva que não dava sinal de querer parar.
Jantamos tranquilamente. Na conversa revivemos os bons dias que passamos pela Cote D’Azur. Os lugares maravilhosos que visitamos com nossas filhas e genro, e o nascimento da nossa primeira neta. Tudo de bom!
Na saída do restaurante me sentia em estado de graça. Caminhamos tranquilamente nos despedindo de Nice sem nos importarmos com a chuva. No caminho de casa ouvimos de longe o ritmo de salsa do La Havane. A casa noturna que mais freqüentei aqui em Nice.
Entrei rapidamente para me despedir dos amigos. Klaus, o peruano, não estava. Me despedi do Guilherme, o barman. Uruguaio de Montevidéo, saiu de trás do balcão para me abraçar.
Bem, hoje acordamos às 5:30h e entre o abrir e fechar de malas fomos nos depedindo “secamente” da filha, da neta e do genro, como se fossemos até a esquina e já voltássemos. Artimanha necessária para não cair na choradeira.
Deixar Nice dá uma certa tristeza. Uma cidade civilizada, moderna, pessoas afáveis enfim, um belo lugar para se morar.
Mas, mesmo triste , sempre que volto para Florianópolis tenho a sensação de que estou retornando ao paraíso!
Au revoir!
Olsen Jr.
ATÉ BREVE CAMARADA!
Soube da morte do amigo Sérgio Gonzaga na quinta-feira. Encontrei com sua filha Daniela, visivelmente abatida, num bistrô aqui na Lagoa da Conceição que costumo frequentar nas folgas da minha escrita, quando o trabalho andou bem.
Perguntei como estava, mas já sabia o que me iria responder, foi uma maneira de ganhar tempo para tomar a decisão de sair logo do local. Disse-me que o pai tinha falecido no sábado. Apoiei minha mão direita em seu ombro e, olhando dentro dos olhos dela exclamei, estou solidário... Ouvi um “obrigado” antes de me afastar. Ela estava acompanhada e, isso me deixou livre para buscar sozinho, as palavras que naquela hora tinham esvaziado a minha mente.
Na verdade só mudei de bar... Penso num poema de John Donne, um verso que dizia “... A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte da humanidade”...
É uma purgação, todas às vezes que alguém que me é próximo morre, tenho de ficar sozinho, foi assim com a minha mãe, meu pai... Continua sendo com os amigos que partem sem se despedir... Sozinho não! Gosto de ver as bolinhas de gás carbônico que saem do fundo da taça de champanhe quando sobem rápidas e se espraiam ali na superfície do líquido gelado que vou ingerir em celebração a vida que sempre continua de outras maneiras.
Tínhamos muitos amigos em comum, Romeu Lourenção, Rosangela de Souza, Adolfo Dias, Valdir Alves... Houve um tempo em que nos reuníamos todas as semanas em minha casa para discutir cinema, literatura e política... Sempre tinha uma carne na churrasqueira, uma cerveja gelada, boa música e o descompromisso com a voragem do tempo, típico dos homens que vivem sozinhos. “Sozinhos sim, solitários não” como uma amiga fazia questão de repetir sempre.
Vindo de uma família tradicional, advogado por formação, mas com um espírito demasiadamente livre para se coadunar com uma vida metódica e presa aos ditames de uma existência padrão, mesmo
De volta à terra natal, o mundo parece menor. A sensação das possibilidades abertas, de tudo para ser feito, bastando só boa vontade, permitiu uma capacidade inesgotável para se adaptar em qualquer situação, mesmo as adversas. O que fazia do Sérgio um excelente parceiro para qualquer coisa em qualquer hora. Não hesitava em ir para a cozinha fazer a sua famosa “Galinha à Bocaina” (uma galinha metida à besta, recheada e refogada com cebolas inteiras) em panela de ferro; também em subir em uma cadeira e fazer um discurso para alguns membros de sindicato indecisos em tomar partido em alguma ação de caráter coletivo; da mesma forma que não relutava em afastar uma mesa da sala ou da copa e fazer uma demonstração de dança, ainda que fosse o rock’n roll (os Beatles que ele gostava) desde que alguém do sexo feminino topasse o desafio...
Falando nas mulheres, elas apareciam sempre... Umas mais outras menos... Cada uma que partia levava um pouco, deixavam também suas cicatrizes... Mas não havia amarguras e nem lamentos... Compreendia que esgrimir com os sentimentos também fazia parte da vida, e a vida – como se sabe – era para ser vivida e disso não podia queixar-se...
Menos de um mês atrás encontrei com o Romeu Lourenção, na Kibelândia, ele apareceu para buscar alguns quitutes para o Sérgio que – segundo ele – se recusava a comer... Lembrei do conto “O Artista da Fome”, do Kafka, em que o personagem – um jejuador – queria bater o recorde de permanência sem comer, mas afirmava que não tinha méritos nenhum pelo feito, uma vez que não gostava da comida mesmo, em outras palavras, porque não encontrara ainda a comida que o satisfizesse... Mas não era o caso, e ele estava tentando reverter o processo... Bom ver dois amigos engalfinhados naquela empreitada, cada um com suas convicções, mas tentando sempre esticar aquele fio tênue da vida que nos separa do infinito...
Não estive lá nos momentos derradeiros, Sérgio e Daniela, mas fiquem certos de que seu pai foi um homem bom, um grande amigo e junto com vocês, também vou sentir a sua ausência!
DESTERRO, 20/02/2010.