terça-feira, 22 de dezembro de 2009

DURÕES, ALCÓOLATRAS E GENIAIS


Por Olsen Jr.

O poeta Castro Alves encontrou num sebo um livro que ele havia dedicado a um amigo. Não teve dúvidas. Comprou a obra e acrescentou à dedicatória que lá estava, a observação: “Por favor, eu insisto” e com nova data, remeteu-a outra vez ao desavisado.

Lembrei do fato porque todas às sextas-feiras envio a crônica para um seleto grupo denominado “Os Velhos de Guerra”, atualmente com 166 membros, e apenas um reclamou que ainda não recebeu o texto da última semana.

Deixa pra lá, também insisto.

Chegou às livrarias na semana passada (e já li) a obra “Guia de Drinques dos Grandes Escritores Americanos”. Como lembrou Truman Capote “Esta profissão é uma longa caminhada entre um drinque e outro”. Mas o livro vem assinado por Edward Hemingway (ilustrador/caricaturista e neto do escritor Ernest Hemingway) e Mark Bailey. A ideia da obra nasceu quando ambos estavam num bar no Greenwich Village, véspera de natal, enquanto bebiam cerveja e sentindo-se um pouco nostálgicos. Some-se aí a beleza da neve caindo em Nova York e o desânimo que pairava no ambiente onde se encontravam repleto de escritores. Foi quando eles lembraram que “nos bons e velhos tempos as coisas teriam sido muito diferentes”. Porque os escritores gostam de beber, nem todos – eles observam – mas a grande maioria.

Francamente, a exceção de Kafka, acredito que todos os escritores que admiro e que me “fizeram a cabeça” eram alcoólatras. E não se trata de “beber socialmente”, eles bebiam mesmo.

O livro relaciona 43 autores (homens e mulheres), entre eles, cinco ganhadores do Nobel e l5 do prêmio Pulitzer sem contar os vencedores do National Book Award, uma espécie de ”Who’s who” dos mais celebrados romancistas, contistas, poetas, dramaturgos, jornalistas e críticos americanos. Todos beberrões inveterados.

Bem diagramado, em capa dura, traz uma caricatura do escritor, alguma curiosidade de sua vida, um rodapé com as principais obras publicadas em negrito, e em seguida o seu drinque favorito com a maneira de prepará-lo destacada e por fim, um trecho de uma de suas obras em que fala de alguma bebida.

Se servir de consolo para os puritanos, o livro traz duas advertências, uma de Abraham Lincoln “Aprendi com a experiência que as pessoas que não têm vícios têm muito poucas virtudes” e a outra, dos próprios autores “lembrem-se de que alguns coquetéis não fazem de você um bêbado, e de que nenhuma quantidade de bebida pode fazer de você um escritor”, então estamos conversados.

Para os consumidores vale o alerta do poeta Raymond Carver “Ninguém começa na vida com a intenção de se tornar um falido ou um alcoólatra”. Curiosamente, o seu drinque favorito (e meu também) era o Blood-Mary. Diz a lenda que o drinque foi inventado por Fernand “Pete” Petoit no Harry’s New York bar em Paris no final dos anos 20 e levado para os Estados Unidos depois da Lei Seca. Há controvérsias. Li em uma revista Status (uma edição especializada em drinques) na década de 1970 e que deve estar em alguma caixa aqui em casa, que o drinque foi criado para “curar” a ressaca (e isso é coisa de inglês, lembram-se do inventor do sandwich? Então?). Os três principais sintomas da ressaca: sede, inapetência e ausência do paladar. O suco de tomate hidrata, a vodka devolve o apetite e os condimentos (limão, pimenta, sal e molho inglês) deixam o paladar em forma. Se fosse um francês o inventor, teria posto angostura no lugar do molho inglês, não é verdade?

O escritor Raymond Chandler afirmava “Acho que um homem deveria ficar bêbado pelo menos duas vezes por ano, apenas por princípios”.

Apesar de cervejeiro, H. L. Mencken orgulhava-se de ser onibíbulo, ou seja, de beber todas as bebidas alcoólicas conhecidas - e “gostar de todas elas”. ...

O livrinho é divertido e interessante. Em matéria de beber, cada um, cada um... “Prosit!” Porque já são quase oito horas da manhã e ainda não bebi nada hoje!

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