sexta-feira, 12 de junho de 2009

OBSCURANTISMO FORA DE ÉPOCA


Por Olsen Jr.

Recentemente a pedido da Secretaria de Estado da Educação de Santa Cantarina, após o alerta de uma professora do interior, Sul do Estado, mandou recolher um pouco mais de 130 mil exemplares da obra “Aventuras Provisórias”, do escritor Cristóvão Tezza.

As alegações eram várias, algumas sutis e outras nem tanto, por exemplo, “linguagem inadequada” e “descrição de trechos de supostas relações sexuais”.

Considerando que o livro iria abastecer os alunos do ensino médio da rede estadual, na faixa etária de 15 a 18 anos, a tal professora (não vou citar o nome dela) ficou alarmada. Como os preconceitos têm mais amparo que os escrúpulos, a preocupação da docente ganhou foros de verdade irrefutável. Assim, mesmo sem saber exatamente do que se tratava (uma vez que ninguém tinha lido o livro antes) os zelosos guardiões da moralidade e dos bons costumes (sem contar a religiosidade sempre invocada nesses casos) tomaram a decisão de recolher todos os mais de 130 mil livros adquiridos ao preço unitário de R$11,75 .

Sabem, todas às vezes que se fala em “moralidade” me vem a cabeça o pensamento do poeta e dramaturgo inglês, Oscar Wilde “Um moralista é, quase sempre um hipócrita; uma moralista é, invariavelmente, um bagulho”.

Quando interpelado, um dos responsáveis pela apreensão promovida pela Secretaria (também omito seu nome, afinal estou pensando nas idéias) afirmou que “o ideal seria que os professores fossem preparados para o debate com os alunos”... Poxa! Isso é o que se chama de “crise de bom senso”, o ideal mesmo seria que os professores lessem mais, viajassem mais, conhecessem outras realidades, outras culturas: o ideal é que tivessem a mente aberta, receptiva para o novo: o ideal é que tivessem uma consciência de que a sociedade evolui graças as suas contradições, que não é o ponto mais atrasado que serve de referência para dimensionar e avaliar comportamentos; e que não é uma resolução baseada num ponto desses a “digna de ser levada em conta” para uma atitude como essa de recolher uma obra literária a pretexto de ser uma “potencial” desencaminhadora de “nossa” juventude, mas principalmente, o ideal mesmo, seriam que os tais professores lessem antes a obra para poderem estar preparados para o debate, se tal debate ocorresse um dia, como poderia ser agora, perante a sociedade, caso tivessem lido a obra... Se nem os professores lêem, seria otimismo demais, acreditar que haveria 130 mil leitores recrutados nesse universo de jovens mais interessados e com maior proveito, nos computadores e tendo muito mais informações e com maior sabores, invés de descrição parcial de uma relação sexual (aquela suposta relatada acima) tendo na internet tais atos ilustrados com imagens de carne e osso e ainda de gente conhecida, ora “senhores” tenham paciência e não abusem da nossa também.

O escritor catarinense Cristovão Tezza (atualmente residindo em Curitiba) estava acompanhado, nessas obras indicadas para o vestibular, de outros grandes nomes da literatura brasileira como José Lins do Rego, Luis Delfino e Graciliano Ramos. Uma obra literária deveria estar acima das questiúnculas mundanas daquilo que os enrustidos chamam de “politicamente correto”, aliás, essa figura de linguagem está sufocando e protelando um encontro com uma realidade que tem tudo a ver com a vida e nada com as máscaras que se pretendem calçar para deixá-la mais dissimulada e suportável.

Perdeu-se outra grande oportunidade de se discutir um tema de relevância, nessa idade em que os jovens estão receptivos para entenderem. Tudo a pretexto de salvaguardar não sei o quê de não sei quem e para não sei quando? Enquanto isso continuamos, como lembrou o Paulo Francis, chamando um avião de aeronave.

Meu amigo Cristóvão Tezza perdoe-nos porque em alguns setores do nosso (des)governo eles ainda não sabem o que fazem.

Ah! Quase esqueço, Santa Catarina vai aparecer no “Jornal Nacional” de novo, para todo o Brasil!

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