terça-feira, 5 de maio de 2009

Bandidos no poder

Renan deu passagens para envolvidos em escândalo. Acusados de atuar como laranjas, colaboradores do senador receberam bilhetes aéreos da cota parlamentar durante investigações das denúncias de 2007

Lúcio Lambranho, Edson Sardinha e Eduardo Militão

O Senado pagou 26 passagens para quatro personagens envolvidos nas denúncias que resultaram na queda de Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência da Casa em 2007. Enquanto brigava para escapar da cassação e preservar o mandato, o senador cedeu a cota parlamentar para transportar dois assessores e um primo apontados como seus “laranjas” em empresas de comunicação. O quarto passageiro é um veterinário apontado pelo ex-presidente do Senado como responsável pela venda de 1.700 cabeças de gado de sua propriedade. Leia tudo. Beba na fonte.

Um comentário:

  1. Evento de 500 participantas custará R$ 10 milhões, ou seja R$ 20 mil por pessoa. Só Embratur deu 2,5 milhões


    Já acenderam as primeiras luzes de alerta vermelho para o dinheiro público que está sendo investido para a realização da 9ª Conferência Global do WTTC (World Travel & Tourism Council) em Florianópolis nos dias 15 e 16 de maio. Trata-se de um evento privado, sem nenhuma chancela de organismos internacionais, que reunirá duas centenas de convidados internacionais e igual número de convidados nacionais.

    Até o fechamento da edição já ultrapassava em R$ 10 milhões os gastos de dinheiro público com o evento. Serão R$ 2,5 milhões da Embratur, R$ 5 milhões do Governo de Santa Catarina e mais de R$ 2 milhões do Fundo de Turismo e Cultura do Estado e da Prefeitura de Florianópolis.

    O pior de tudo isso é o superdimensionamento do evento, realizado localmente, que é apresentado como divisor de águas do turismo catarinense. Existe, também, a ideia de que um desses 100 CEO’s internacionais, que terão passagem relâmpago por Florianópolis, resolva investir localmente, justificando dessa forma os investimentos feitos.

    Ao superdimensionar a extensão deste evento privado, que na realidade já tinha tido o seu passe recusado pelo Brasil, depois de uma análise ponderada de custo-benefício, passou a se “justificar” uma série de gastos, que estavam sendo mantidos distantes dos olhares fiscalizantes da sociedade e do trade turístico.

    Uma tentativa anterior dos organizadores, de vender a realização do WTTC no Brasil, foi afastada por correspondência assinada pela então ministra do Turismo, Marta Suplicy, que considerou que o investimento solicitado não traria um retorno para o país. E isto dentro de uma escala de valores bem menores do que a farra de gastos que passou a ocorrer em Santa Catarina.
    Segundo especialistas do turismo português, o evento similar realizado em Lisboa, custou um terço do que está sendo gasto nesta edição, que foi ressuscitada pela presidente da Embratur, Jeanine Pires, que é catarinense, e os dirigentes daquele Estado, que aliás, tem no seu primeiro escalão, como presidente da Fundação de Cultura, Anita Pires, mãe da presidente da Embratur e braço direito do secretário de Turismo e Cultura, Gilmar Knaesel, que é o responsável pelos gastos do milionário Fundo Estadual de Turismo e Cultura.

    Nesta história, entra o bem-intencionado governador Luiz Henrique, que, achando estar fazendo um grande negócio para o futuro do turismo do seu estado, passou a criar uma oportunidade de gastos escancarados para os seus colaboradores, com contratações milionárias de empresas de organização e até a construção de uma arena de eventos que será alugada mediante recursos do Fundo de Turismo.

    Só para se ter uma dimensão, trata-se de um evento privado e fechado, que reunirá menos de 500 pessoas. A Feira das Américas e o Congresso da Abav, que anualmente reúne 16 mil participantes e tem uma exposição de 30 mil m², custa aos seus organizadores um pouco mais de R$ 4,5 milhões. É pelo menos a metade do que está ocorrendo em Santa Catarina.
    A Embratur, por decisão própria, resolveu destinar os R$ 2,5 milhões (US$ 1,2 milhão) no apagar das luzes de 2008. O convênio assinado com o Convention Bureau de Florianópolis de número 7022/2008 referente ao processo 72100001373/2008-46, foi publicado no Diário Oficial de 30 de dezembro de 2008 e, segundo a assessoria de imprensa da entidade, os recursos já foram pagos. O JT solicitou oficialmente ao Convention Bureu uma cópia do plano de trabalho e até o fechamento da edição não havia sido enviado.

    Os investimentos de R$ 5 milhões do Governo do Estado foram informados pelo assessor de imprensa do governador, localizado no Uruguai, quando acompanhava o lançamento do evento na capital do país vizinho.

    Os recursos do Fundo de Turismo serão usados para eventos paralelos ao WTTC, entre eles um festival de manifestações culturais e de atrações catarinenses, que será realizado em paralelo no Centro de Eventos, que segundo a assessoria do secretário de Turismo, será um minissalão de turismo, com todas as regiões turísticas do Estado e na reunião do Fórum Nacional de Secretários de Turismo (Fornatur), que se reunirá na mesma data.
    Contrariando a previsão do Governo, os executivos internacionais participantes do Fórum não terão tempo para uma visita técnica ao Estado e a agenda dos principais nomes envolve um frustrante bate-e-volta. O trade turístico estará alijado da participação do evento, que será super-restrito e quem não for convidado do presidente da República, do governador, do ministro do Turismo e do próprio Conselho, terá de pagar US$ 5 mil. Em termos de agregar conhecimento para a área acadêmica local e aos profissionais catarinenses, a contribuição do Fórum será nula. Eles serão forasteiros na sua própria cidade.

    Contrariando a nebulosidade dos gastos envolvendo o WTTC, será necessário que os organizadores, principalmente a Embratur e o Governo do Estado, passem a prestar contas publicamente de cada centavo gasto. O Jornal de Turismo, que foi o único veículo nacional de turismo a investir no turismo catarinense e abrir uma redação regional em Florianópolis, vai colocar lupa nesta prestação de contas. Acompanharemos passo a passo.

    Não é a primeira vez que o turismo é usado como bandeira de investimentos milionários, de efeito inócuo. Como uma série de publicações de luxo realizada em um passado recente pela Santur, sempre utilizando uma única editora, com o aval de pessoas íntimas do governador.
    Em diversos blogs locais estão surgindo denúncias envolvendo também o secretário Gilmar Knaesel, que passa a ficar na mira do Ministério Público. Uma das acusações é a construção da Arena Jurerê, em uma outra mistura do público e privado. Existe também a denúncia do jornalista Cesar Valente, que afirma que “a dispensa de licitação que contemplou com R$ 1,4 milhão a IBI Asia-Pacific, para atrair turistas para Santa Catarina. É empresa coligada a uma certa IBI Americas. E no site aparece, como endereço no Brasil, a R. Frei Lucínio Korte 244, sala 202, na Vila Nova, em Blumenau”, que é a cidade da região da base política de Knaesel.

    Depois da cassação dos governadores da Paraíba e do Maranhão, o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique, é um dos próximos a ser julgados, o que tem aguçado a velocidade de projetos milionários no Estado, principalmente na área de turismo. A imprensa de quase todo o Estado, que está na mão de um único grupo empresarial, tem recebido verba pesada de publicidade, como é o caso do WTTC, que envolve a construção de uma cortina de grandiosidade para acobertar os gastos públicos exagerados para o evento.

    É necessário apurar o empenho pessoal da presidente da Embratur, a catarinense Jeanine Pires, em ressuscitar um evento que foi descartado pela sua ex-chefe, a ministra Marta. De analisar um possível conflito ético por sua mãe ser o braço direito de Gilmar Knaesel, secretário de Turismo e Cultura de Santa Catarina, que foi o órgão beneficiado com os efeitos do milionário convênio de R$ 2,5 milhões. Apurar a prestação de contas rigorosa dos gastos que estão sendo feitos em nome do WTTC pelo Governo do Estado e Prefeitura de Florianópolis; o envolvimento da Federação dos Conventions Bureaus de Santa Catarina em outros convênios visando o WTTC; a participação do Fundo no aluguel da Arena do Costão do Santinho; e fazer uma análise de todas as propostas que fazem parte da licitação obrigatória do convênio da Embratur, checando a capacitação técnica e os valores de mercado da proponente.
    O caso fica ainda mais sério quando existe um movimento para levar o próprio presidente da República a Santa Catarina, para chancelar um evento que está sendo realizado, com o aval do órgão de promoção internacional do país, a Embratur, por valores, como afirmamos no início, muito a acima da sua dimensão real.

    ResponderExcluir